Raça chegou ao país há 500 anos. Selvagens pela própria natureza, animais ficam mansos e obedientes depois de treinados.
Ao cruzar a fronteira mais ao sul do Brasil, encontra-se uma paisagem bastante familiar. A vegetação baixa e enormes pastagens naturais dão impressão de que ainda estamos nos campos do Rio Grande do Sul. O desafio do Globo Repórter era desvendar um Uruguai que o Brasil não conhece: selvagem, místico, cheio de riquezas naturais. Um roteiro de mais de dois mil quilômetros de estrada e muitas surpresas.
Homem e a natureza convivem em busca de harmonia desde os tempos da colonização. Para dominar a imensidão do pampa, antes, era preciso domar o cavalo, que chegou ao Uruguai pela mão dos conquistadores espanhóis, há 500 anos.
Eram animais treinados para a guerra, mas as fugas e o abandono no campo fizeram deles cavalos selvagens. A seleção natural, em um ambiente de inverno rigoroso, preservou os mais fortes. Surgiu uma raça resistente, bem adaptada: o cavalo crioulo – selvagem pela própria natureza, mas manso e obediente depois de treinado.
Até que um cavalo selvagem se transforme em um animal dócil, manso e tranquilo – até que alguém sem muita experiência se arrisque a montar – são mais ou menos três meses de treinamento. E tudo começa no curral, nas mãos do domador.
O domador é determinado e paciente com o animal que vai ser montado pela primeira vez. Entende o medo e a aflição diante uma tarefa nova, desconhecida. A primeira montaria é cercada de muita tensão. O animal parece um pouco assustado, testa o domínio do cavaleiro. É como se homem e animal disputassem quem está no comando. Mas o domador não se abala e mostra pulso firme na condução. Em seguida, o animal já não resiste.
"Com violência, fica mais difícil domar o cavalo. Se você o maltrata cada vez que o encilha, o cavalo vai ficar com medo cada vez que você o encilhar", explica o domador Rodrigo Silveira.
Uma égua está em um estágio mais avançado: começa a ser treinada para competições e dá um show. Mostra tudo o que já aprendeu.
"Dá gosto andar em um cavalo crioulo. Além de servir para trabalhar, andar em um cavalo crioulo, com a docilidade e a funcionalidade que ele tem, é tudo", diz o treinador de cavalos Pablo Durán.
Hoje, o cavalo crioulo é um companheiro inseparável de quem trabalham nas fazendas, até na hora do descanso, depois de um dia de sol. É um personagem da história, riqueza viva sobre o chão do Uruguai.
Globo Repórter